No país com nome de árvore, que teve na exploração do pau-brasil sua primeira fonte de lucro, o setor de base florestal só cresce. Os investimentos em projetos a serem concluídos até 2024 somam R$ 53,5 bilhões.
As obras de expansão devem gerar 35 mil vagas temporárias. Ao fim, serão mais 14 mil vagas fixas nessa cadeia, que soma hoje 1,4 milhão de empregos, segundo a Ibá, Indústria Brasileira de Árvores. A entidade representa o setor de árvores plantadas, do campo à indústria. Os produtos incluem celulose, papel, painéis, pisos e biomassa.
“Estamos presentes na maioria dos estados, em cerca de mil municípios, em áreas que antes eram deprimidas no ponto de vista econômico e social”, diz o diretor da Ibá, embaixador José Carlos da Fonseca Júnior.
Dois grandes investimentos são em Santa Catarina: expansão de fábrica de embalagem WestRock, em Três Barras, e a nova unidade da Berneck para produzir painéis, em Lages.
Com a pandemia, houve queda no comércio de produtos de base florestal. Mas a economia foi retomada logo e, desde janeiro, voltou ao patamar de antes da Covid-19.
Em 2020, a indústria de celulose produziu o segundo maior volume histórico em um ano: 20.953 milhões de toneladas, avanço de 6,4% em relação a 2019. O recorde foi 2018, com 21.085 milhões.
Alguns dos 5 mil bioprodutos dessa indústria se mostraram essenciais na epidemia, a começar pelos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual): máscaras, aventais e toucas hospitalares, que levam celulose em sua composição. “Apesar de todo o drama para o Brasil e a humanidade, 2020 foi um ano de resultados muito positivos”, diz Fonseca.
As exportações de celulose atingiram 15,6 milhões de toneladas no período, avanço de 6,1% em relação a 2019.
A reação coletiva de estocar papel higiênico no início da quarentena talvez ajude a explicar a alta de 1,4% na produção do item em 2020, que chegou a 1,3 milhão de toneladas. Já o papel-cartão, usado em embalagens de delivery, teve aumento de 4,9%. O mercado doméstico consumiu 73% das 798 mil toneladas fabricadas.
A adaptação de espaços para home office impulsionou a venda de painéis usados na indústria de móveis, que teve alta de 6,6% em relação a 2019.
O setor cresce amparado em tecnologias de conservação, segundo o diretor da Ibá.
Uma prática adotada é a plantação em mosaico, que intercala blocos de árvores cultivadas para fim industrial e áreas de vegetação nativa. A técnica, reconhecida pela ONU entre as medidas para adaptação às mudanças climáticas, protege o solo e ajuda a preservar nascentes e fauna.
Há 9 milhões de hectares de floresta plantada no Brasil. Segundo a Ibá, a indústria mantém outros 5,9 milhões de hectares em Áreas de Preservação Permanente, Reservas Legais e Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Nessas áreas, certificadas por órgãos internacionais, foram encontradas 38% das espécies de mamíferos e 41% das aves ameaçadas de extinção.
Investimentos em expansão incluem o fomento de parcerias com pequenos produtores rurais, em que esses passam a adotar o manejo sustentável. Para o pequeno, a diversificação, com integração entre lavoura, pecuária e floresta, gera renda extra. Para a indústria, é a chance de, sem usar mais terras, ter maior volume de madeira para produzir.
Desmate é entrave ao desenvolvimento da indústria de madeira
O setor de base florestal engloba, além do mercado de reflorestamento, atividades de manejo de floresta nativa, que devem ser legalizadas e licenciadas por órgãos ambientais.
O desmatamento ilegal é um empecilho ao desenvolvimento da indústria que usa florestas naturais, diz o representante desse grupo, Frank Rogieri, presidente do Fórum Nacional das Atividades de Base Florestal e diretor do Cipem, Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira de Mato Grosso.
“Por conta do preconceito gerado ao nosso setor com o desmatamento ilegal, ficamos privados de financiamentos a longo prazo, sujeitos a juros mais altos e a valores não condizentes com o que precisamos para investir em tecnologias e máquinas. Nenhum banco quer ter sua imagem associada a ‘desmatadores’”.
Rogieri diz que, em 2020, ações do governo de combate a incêndio, desmatamento e garimpo na Amazônia Legal ajudaram o negócio. “O setor precisa de floresta em pé. Com as operações, diminuiu a oferta de material ilícito, favorecendo quem trabalha dentro da lei.” Apreensões de máquinas e produtos oriundos do desmate criminoso, diz, deram fôlego às empresas que adotam técnicas de conservação das florestas.
Em Mato Grosso, o setor de base florestal atua na colheita e no beneficiamento de madeira nativa oriunda do manejo florestal sustentável. Nesses programas, a área de floresta é dividida em 25 a 30 talhões (frações de terreno). A cada ano é trabalhado um talhão, com a colheita das árvores mais antigas, obedecendo o limite definido no projeto (cerca de 5 árvores por hectare). Com isso, a mesma área só volta a ser explorada após 25 anos, tempo para que árvores mais jovens amadureçam e possam ser colhidas sem prejuízo da conservação.
A madeira nativa colhida é empregada na maior parte na fabricação de móveis, pisos e outros itens da construção.
Já as florestas de eucalipto no estado correspondem a 211 mil hectares e são direcionadas, em grande parte, à produção de biomassa.
As áreas de cultivo fornecem 1 milhão de metros cúbicos de madeira tratada às indústrias, movimentando R$ 70 milhões, segundo a Associação de Reflorestadores de Mato Grosso (Arefloresta-MT).
Uma árvore muito cultivada no estado é a teca, com finalidade diferente da do eucalipto. Vai para marcenarias e é transformada em móveis e assoalhos. São exportados ao ano 500 mil metros cúbicos, 90% da produção do estado.
Segundo Fausto Takizawa, diretor da Arefloresta, a fiscalização é falha, e 75% das árvores arrancadas no estado ainda acontecem fora da lei.
Hoje, Mato Grosso tem 3,7 milhões de hectares de áreas manejadas. A meta é chegar a 6 milhões até 2030. A produção de madeira nativa é a base da economia de 44 cidades. O setor responde por 90 mil empregos diretos e indiretos no estado.
Está prevista a implantação de uma indústria de celulose, a primeira do estado, em Alto Araguaia. A Euca Energy, criadora do projeto, informa um investimento de U$ 2,5 milhões. A fábrica já obteve as licenças ambientais e deve operar a partir de 2024.
Marcelo Ambrogi, diretor de planejamento da Euca Energy, afirma que a indústria consumirá, nos primeiros cinco anos, eucalipto de plantios de MT, MS e MG. No longo prazo, a ideia é usar 100% de plantios mato-grossenses.
O plano é cultivar 290 mil hectares em áreas degradadas e pastagens de baixo valor. Os plantios devem ser certificados pelo FSC, selo internacional para práticas socioambientais econômicas.
“Estamos nos preparando para gerar até 5 mil empregos na região, com pico de 8 mil no período da construção. Vamos fazer parcerias com sistema S, universidades e escolas técnicas locais”, diz Ambrogi.
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